O país acordou em silêncio esta terça-feira. Francisco Pinto Balsemão, um dos nomes mais poderosos e influentes da história contemporânea portuguesa — ex-primeiro-ministro, fundador do Expresso e criador da SIC — partiu aos 88 anos, em Lisboa, deixando para trás um legado impossível de igualar.

A notícia da sua morte, por causas naturais, caiu como uma bomba nos círculos políticos e mediáticos. Fontes próximas da família confirmam que Balsemão faleceu serenamente em casa, rodeado de familiares, mas o impacto da notícia foi imediato: políticos, jornalistas e empresários manifestaram consternação perante o fim de uma era.
Francisco Pinto Balsemão foi muito mais do que um político — foi o homem que mudou para sempre a forma como Portugal lê e vê o mundo. O seu nome está gravado nas duas colunas que sustentaram a liberdade pós-25 de Abril: a imprensa livre e a televisão privada.
Em 1973, fundou o Expresso, desafiando a censura do regime e inaugurando uma nova era no jornalismo português. Décadas depois, em 1992, fez história novamente ao criar a SIC, o primeiro canal privado de televisão em Portugal — um projeto que, segundo pessoas próximas, nasceu “entre sonhos e noites sem dormir”. Em 2001, voltou a inovar ao lançar a SIC Notícias, o primeiro canal de informação contínua do país.

Mas foi também um homem de poder discreto, muitas vezes chamado de “o último patriarca do jornalismo português”. Durante os anos 80, assumiu a liderança do governo após a morte trágica de Sá Carneiro em Camarate — um episódio que o marcou profundamente e que, segundo amigos, “nunca deixou de o assombrar”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou-lhe homenagem emocionada:
“Com a morte de Balsemão, perdemos um pilar da democracia, um defensor da liberdade e um homem que acreditava no poder da palavra como instrumento de construção nacional.”
Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, reagiu, destacando “a serenidade, inteligência e coragem” de um homem que “ajudou a fundar o Portugal moderno”.
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A ironia do destino quis que, apenas dois meses antes de partir, Balsemão tivesse sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, o maior símbolo de reconhecimento à língua e cultura portuguesas — um gesto que agora ganha um significado quase premonitório.
Nas redações do Expresso e da SIC, o ambiente é de consternação. Jornalistas, muitos deles formados sob a sua orientação, falam em “fim de uma era”. “O Dr. Balsemão acreditava que o jornalismo podia mudar o mundo — e, de certa forma, mudou mesmo”, disse uma fonte da estação.