A luz fria da manhã de sábado trouxe consigo uma notícia que rasgou o silêncio e atingiu a comunidade do desporto motorizado como um trovão: Jorge Brandão tinha partido.
No site da Presidência da República, as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa surgiram como uma despedida solene — um reconhecimento profundo do valor humano e desportivo de um piloto que vivia sempre no limite da velocidade e da coragem. As condolências dirigiam-se à família, aos amigos e à mítica equipa Old Friends Rally, agora de luto.
Um homem que vivia para desafiar o impossível
Natural de Arouca e dono de 46 anos intensamente vividos, Jorge não era apenas piloto — era um apaixonado.
Empresário, competidor habitual em provas de Enduro e todo-o-terreno, figura presente em campeonatos nacionais e internacionais… e nos últimos meses, um homem focado num único objetivo: conquistar o Rally Dakar a solo em 2026, o maior desafio da sua carreira e, talvez, da sua vida.
A participação ao lado de Carlos Vento em 2024 tinha-lhe acendido algo no peito — uma faísca que se transformou numa chama impossível de apagar. Nas redes sociais, surgiam imagens ao lado do amigo Miguel Oliveira, sorrisos e máquinas ao sol, como capítulos de uma história de velocidade e de sonhos gigantes.
A etapa que mudou tudo
Na ficção dramatizada deste momento, a última etapa do Rali de Marrocos surge quase como uma cena cinematográfica: o deserto a estender-se em tons de ouro e laranja, o vento a levantar poeira fina, o sol a descer no horizonte como um holofote trágico.
Era a 5.ª e derradeira etapa — a que deveria fechar mais uma prova com glória e adrenalina.
Mas, a apenas dois quilómetros da meta, o destino revelou a sua face mais cruel.
Ao atravessar uma duna traiçoeira, a mota perdeu equilíbrio.
Um segundo de descontrolo.
Um impacto inevitável.
Um silêncio que nenhum motor conseguia preencher.
A assistência chegou num instante, mas o deserto, implacável, não deu tréguas.
Jorge não resistiu.
O choque que percorreu o país
A organização confirmou a notícia, e o mundo do desporto ficou suspenso — incrédulo, devastado.
Na equipa Old Friends Rally, ninguém encontrou palavras. A perda era demasiado grande, demasiado inesperada.
Pilotos, mecânicos, fãs e colegas sentiam a mesma espécie de vazio:
Jorge não era apenas um nome no pódio — era um espírito indomável, uma chama que parecia impossível de apagar.
E, nessa sexta-feira, o deserto de Marrocos levou um dos seus melhores.
Para sempre na memória do desporto
A história de Jorge Brandão fica agora gravada no asfalto, na areia, nos trilhos e nos corações daqueles que o acompanharam.
Não apenas pelas conquistas, mas pela forma como vivia: sempre mais longe, sempre mais rápido, sempre mais alto.
