O humorista Eduardo Medeiros, um dos nomes mais carismáticos da comédia portuguesa, viu o mundo desabar numa fração de segundo quando a esposa, a realizadora Joana M. Duarte, recebeu uma notícia inesperada sobre a filha mais nova do casal, a pequena Clara, de apenas quatro anos.
Durante meses, Joana sentiu que algo profundo escapava ao olhar de todos. As “birras” de Clara eram diferentes — intensas, quase como pequenos terramotos emocionais. “Havia algo dentro de mim que gritava que aquilo não era normal”, contou Joana, lembrando noites inteiras em que Clara acordava a chorar porque o pijama “tocava mal” na pele ou porque o som do vento lhe parecia ensurdecedor.
A família ouviu de tudo:
“É um feitio difícil.”
“É apenas uma fase.”
“Vai passar.”
Mas não passava. E piorava.
Certo dia, durante uma crise particularmente intensa num supermercado — em que Clara tapou os ouvidos, gritou e caiu no chão em pânico absoluto — Joana percebeu que já não podia ignorar o instinto que a vinha atormentar. Procurou ajuda especializada e foi então que receberam um diagnóstico inesperado: hipersensibilidade sensorial severa.

Segundo a pedopsiquiatra fictícia que acompanha a família, Clara vê, ouve e sente o mundo “com o volume no máximo”. Um ambiente com muitas pessoas para ela é como estar no meio de um furacão. Uma costura ligeiramente fora do sítio pode transformar-se numa explosão de desconforto insuportável.
Quando ouviu a explicação, Joana desabou.
Eduardo, habitualmente o pilar de humor e leveza, ficou sem palavras.
“De repente, tudo fez sentido… e ao mesmo tempo nada fez”, confessou Joana.
A família teve de reaprender rotinas, ambientes, texturas, sons — tudo.
E, pela primeira vez, sentiram que aquela pequena batalha diária tinha finalmente um nome… e um caminho possível.