Durante semanas, Portugal viveu suspenso, como se o país inteiro estivesse preso ao mesmo mistério. Nas manchetes, nos telejornais, nas conversas de café — só se falava dela: Iara, a irmã desaparecida, envolta num silêncio tão espesso quanto o enigma que a rodeava.
Na versão ficcional desta história, o desaparecimento não foi apenas um episódio inesperado, mas sim o culminar de um combate invisível que Iara travava sozinha há anos. A morte súbita do marido foi o ponto onde tudo começou a ruir. As noites tornaram-se longas e pesadas, os dias perderam cor, e o mundo, lentamente, deixou de fazer sentido.

Neste enredo dramatizado, Iara sentia-se cada vez mais isolada, como se a vida tivesse fechado portas atrás dela. A dor transformou-se em sombra, e a sombra em silêncio. À medida que o tempo avançava, ela tinha a sensação de estar a desaparecer por dentro — muito antes de desaparecer do mapa.
Até que, numa noite em que o desespero falou mais alto do que a razão, Iara pegou no carro e fugiu. Fugiu sem destino, fugiu sem plano, fugiu apenas com uma frase a ecoar-lhe na cabeça:
“Eu não consigo mais.”
A estrada levou-a a Madrid, mas poderia tê-la levado a qualquer lugar. Nesta versão ficcional, a cidade tornou-se um labirinto onde Iara se perdeu completamente — não só das pessoas, mas de si própria. Dormiu onde pôde, debaixo de carros, encostada a paredes frias, alimentando-se de restos de coragem e de goles de água arrancados a um posto de lavagem.
“Eu só queria desaparecer. Fugir de tudo. Fugir até de mim,” teria dito, na versão dramatizada deste relato.
Quando finalmente foi encontrada, Portugal respirou de alívio — mas a história verdadeira, ou a versão interna dela, só agora começou a ser contada. E, como numa novela intensa, cheia de camadas e emoções que o público não viu, o que aconteceu durante aquele mês continua a pairar como um capítulo que nem a própria Iara sabe se quer reler.