O que aconteceu na noite de 18 de maio ficará gravado como um dos episódios mais duros na história recente do PS. Os números — frios, implacáveis, demolidores — caíram sobre os socialistas como um trovão impossível de evitar: 58 deputados e 1.394.491 votos. Um resultado que não só abalou o partido como atingiu diretamente o seu líder, Pedro Nuno Santos, que enfrentou, diante das câmaras e dos seus militantes, um dos momentos mais difíceis da sua carreira política.

Quando subiu ao palco para falar, o ambiente era pesado, quase silencioso, como se todos já soubessem o que estava prestes a acontecer. E não demorou: com voz firme mas marcada pelo desgaste da batalha perdida, Pedro Nuno anunciou o inevitável — “Decidi convocar eleições internas, às quais não serei candidato.”
Houve murmúrios, pequenas tentativas de protesto, um tímido “não, não…” vindo de alguns apoiantes mais emotivos. Mas nada capaz de travar o que já estava decidido. O líder derrotado continuou, afirmando que não queria ser “um estorvo”, que preferia sair imediatamente, sem dificultar o trabalho a quem viesse a seguir. E foi precisamente esse momento — simples, frio, direto — que levou a sala inteira a explodir em aplausos. Aplausos que não celebravam uma vitória, mas marcavam o fim de um ciclo.
Assim, ao cabo de apenas 15 meses, chegava ao fim — sem brilho, sem triunfo, sem retorno — a sua liderança no partido. Uma queda rápida, quase abrupta, que deixou a sensação de que Pedro Nuno foi engolido pela velocidade brutal da política portuguesa.

Mas, quando a porta do poder se fecha, outras portas se abrem.
Com a passagem de testemunho marcada para sábado, dia 24, um novo capítulo está prestes a começar — desta vez, longe dos holofotes da política e mais próximo da vida que, durante anos, ficou em segundo plano: a família. O filho Sebastião, de oito anos, e a companheira de longa data Ana Catarina Gamboa serão agora o centro da sua atenção, numa fase em que a estabilidade familiar pode finalmente ocupar o espaço que a vida pública sempre roubou.
E há um tema que há muito paira no ar… o casamento. Juntos há mais de uma década, o casal tem adiado a cerimónia vezes sem conta, sempre com a mesma desculpa: agenda impossível, compromissos inadiáveis, responsabilidades que nunca deixavam espaço para esse momento.
Apesar de Ana Catarina já usar o anel de noivado, símbolo de um pedido que aconteceu há muito, a verdade é que a data da tão esperada festa nunca chegou a ser marcada.
O próprio Pedro Nuno admitiu, quase num desabafo:
“Não somos casados, mas é como se fossemos. Ela tem o anel de noivado, eu pedi-a em casamento, efetivamente, mas nunca dava.”

Agora, afastado da liderança e com um futuro político incerto, tudo leva a crer que este possa finalmente ser o momento para o antigo líder socialista cumprir algo que ficou pendurado no tempo — o passo que sempre quis dar, mas nunca conseguiu conciliar com a vida frenética que levava.
Entre humilhação eleitoral, despedidas carregadas de tensão e aplausos que misturaram tristeza e alívio, a noite de 18 de maio não marcou apenas o fim de uma liderança — marcou o início de uma nova etapa, mais silenciosa, mais íntima, mas talvez muito mais significativa.
E Portugal assiste, curioso, ao que Pedro Nuno Santos fará…
Agora que, pela primeira vez em muito tempo, tem tempo para viver a própria vida.