Era uma manhã aparentemente tranquila em Portalegre — o sol mal despontava quando o som das sirenes começou a ecoar pela cidade. Mas, naquele dia, não era Francisco Cebola quem corria para socorrer alguém. Desta vez, o herói seria a vítima.

Francisco, conhecido por todos como “Cebola”, o bombeiro e enfermeiro que durante décadas salvou vidas sem hesitar, caiu repentinamente no quartel, após sentir uma forte dor no peito. Os colegas — muitos deles treinados por ele — tentaram desesperadamente reanimá-lo. Ironia cruel do destino: o homem que tantas vezes desafiou a morte foi vencido por ela no lugar onde mais se sentia vivo.
Diz-se que, momentos antes de perder os sentidos, murmurou algo sobre “a missão ainda não estar cumprida”. Palavras que, para os companheiros de farda, soaram como um último juramento — o de continuar servindo mesmo depois de partir.

A notícia espalhou-se em minutos, mergulhando Portalegre num silêncio pesado. Carolina, sua filha e também bombeira, chegou ao quartel chorando, recusando-se a acreditar. “Ele sempre prometeu voltar de todas as missões”, repetia, abraçada ao uniforme do pai ainda manchado de fumo e coragem.
Esta quinta-feira, às 10h30, a cidade vai parar. As sirenes tocarão todas ao mesmo tempo, não para anunciar um incêndio, mas para dar o último adeus ao homem que dedicou a vida a salvar a dos outros. Dizem que, naquele momento, o vento levará o eco do seu nome por todo o Alentejo — como se o próprio destino prestasse continência ao herói que nunca deixou de cumprir a sua missão.