A notícia caiu sobre Lisboa como um trovão inesperado. Já o dia ia longo quando, nos corredores silenciosos do poder, começou a sussurrar-se um nome com uma gravidade que ninguém queria acreditar: Octávio Félix de Oliveira tinha partido.
No final daquela terça-feira, ministros, assessores e deputados do PSD foram apanhados completamente de surpresa. Entre eles, Pedro Passos Coelho recebeu a notícia quase ao mesmo tempo que o atual primeiro-ministro. Os dois homens, que raramente partilhavam momentos de vulnerabilidade pública, sentiram o mesmo golpe seco — um daqueles que fazem o mundo abrandar por um instante.
Octávio, economista brilhante, natural de Abrantes, tinha apenas 65 anos. Nos últimos meses, vinha travando uma batalha silenciosa contra uma doença oncológica, luta que poucos conheciam na dimensão certa.
E, de repente, o homem que durante décadas servira o país com rigor, disciplina e humanidade… já não estava lá.

No PSD, instalou-se um silêncio pesado, quase cinematográfico.
Alguns ficaram estáticos, outros sentaram-se devagar, como se o chão tivesse ficado mais instável. O telefone do gabinete do primeiro-ministro não parava de tocar, mas Luís Montenegro deixou-o tocar por segundos intermináveis, absorvendo a notícia antes de responder ao país.
No meio da comoção, começaram a surgir memórias:
— O líder firme do IEFP;
— O servidor público incansável;
— O homem que, segundo muitos, “não sabia trabalhar pela metade”.
Horas depois, Montenegro quebrou o silêncio.
Numa nota publicada nas redes sociais — escrita com a precisão que só existe quando o coração tenta controlar a voz — o primeiro-ministro deixou uma frase que ecoou pelo país inteiro:

“Portugal deve-lhe muito. Obrigado, Octávio.”
As palavras eram simples, mas vinham carregadas de peso.
Nos bastidores, comentava-se que o Governo inteiro sentiu como se tivesse perdido um dos seus pilares silenciosos — daqueles que não aparecem nas manchetes todos os dias, mas sem os quais as instituições tremem.
Nessa noite, Lisboa pareceu mais lenta, mais cinzenta, mais quieta.
Não apenas porque um homem partira.
Mas porque, numa era de ruído e pressa, Octávio Félix de Oliveira tinha sido uma raridade: alguém que serviu antes de falar, que construiu antes de prometer, que liderou sem se exibir.
A sua partida deixou um vazio que ninguém saberia preencher de imediato — e que Portugal, segundo muitos, sentiria durante muito tempo.